quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Da coragem tardia OU "Até que enfim você vem comigo!"

"- O que está acontecendo? Nunca vi esse seu lado..."

"- Não mesmo, ninguém viu. Nem eu", ele pensou apenas, não teve a coragem ou o saco pra dizer isso, apenas virou as costas, sem hesitar, sem olhar para trás.

Sempre tão racional, Henrique não acreditava que estava, de fato, largando tudo. Mas pensou bem... "Tudo? Larguei apenas o emprego dos sonhos... dos outros". Tirou a gravata que o apertava, entregou o terno para aquele senhor que estava sempre em frente ao prédio da empresa, pegou seu carro, ligou o som no volume mais alto possível, nem lembrava que o som era tão potente assim. Cantou, chorou, riu, gritou, ficou em silêncio, cantou de novo, chegou em casa... Ninguém para dar satisfação. Os pais moravam no interior desde que se aposentaram, os irmãos todos casados e ele, sempre tão focado no trabalho, tinha tudo o que sempre quis, mas nada do que sempre desejou.

"Vou viajar", disse pra si mesmo. Pegou o passaporte, tirou a poeira da capa, viu que as folhas estavam lotadas de carimbos... "Que coisa, não me lembro de ter conhecido todos esses países". Pegou o telefone e ligou pra única pessoa que ele sabia que o entenderia. Depois te contar toda a história, ela apenas disse: "Mas você não conheceu nada mesmo, estar num lugar não significa que você conheceu ou desvendou o que passava ao seu redor. E agora... vai fazer o quê?". Antes que ele pudesse dar a resposta, ela disse: "Estou passando aí em 1 hora. Esteja pronto. Caio no mundo contigo". Ela desligou e ele ficou lá. Durante meia hora, ficou parado sem entender nada. Saiu do transe quando o telefone tocou e ela disse: "Minhas malas estão prontas, estou saindo de casa".

Correu pro quarto, antes de fazer a mala, sentou perto da cômoda e começou a escrever. Ele não sabia ainda o motivo pelo qual escrevia aquela carta, não sabia se entenderiam como um ato de coragem ou como apenas um de seus delírios tantos. Cansado das mesmas coisas e pessoas, ele aceitou dar um respiro de tudo. Ia se jogar no mundo, colocar uma mochila nas costas, sacar todo o dinheiro da poupança e, sem o medo de antes, cair na estrada. Ela iria com ele. Ela, a mais corajosa de todas, a mais bonita, a melhor amiga... Demoraram anos, mas ele realizaria o sonho que eles partilhavam quando adolescentes. Anos depois ele disse sim para o convite que ela havia feito numa noite quente de novembro: "Vem comigo?". 

Ela, o sossego dele. Ele, o sufoco dela. E eles se acompanham, finalmente.


"You’ve gotta live your life
While your blood is boiling
Those doors won’t open
While you stand and watch them"

***

sábado, 3 de agosto de 2013

da montanha russa


é a vida, sabe? a vida e seus altos e baixos. a vida e suas feridas. a vida e suas feridas não cicatrizadas. 
se o medo dela é que antes de cicatrizar arda muito. meu medo é que a ardência pare e não sare. mas a gente ri e lembra que tudo sara. 

a gente ri do tempo. ri das nossas tristezas. ri dos tapas na cara que a vida dá na gente. e aí chora um pouquinho ao lembrar que os tapas doem bastante. chora, engole sapos, seca as lágrimas e ri de novo. porque nosso riso é melhor e mais forte que qualquer problema, que qualquer ferida.

vai passar, eu sei. vai passar, ela sabe. a gente sabe que nada é eterno. "para sempre por um triz". a tristeza, minha cara, não é eterna. felicidade é terna. é isso que a gente procura. 

vai demorar. vai arder. mas a gente vai limpar as feridas e elas vão cicatrizar. e aí elas vão ficar como marcas do que fomos, do que ainda somos e do quanto sempre seremos felizes.

tudo sara. né?